sábado, 11 de setembro de 2010

Populações de pinguins estão em declínio, apontam biólogos






Biólogos divulgaram nesta semana, em encontro em Boston, EUA, um estudo em que mostram que as populações de pinguins em 10 das 18 espécies existentes no planeta estão diminuindo. É efeito das mudanças climáticas, da pesca proibida, da poluição graças ao óleo derramado no mar e a caça por mamíferos que dividem o ambiente com os pinguins. As informações são do site Science News.

Treze das espécies de pingüins estão em perigo de extinção. As dezoito espécies vivem no hemisfério sul: uma nas Ilhas Galápagos, quatro no Antártico, e as restantes dividas entre América do Sul, África, Austrália, Nova Zelândia e ilhas do Antártico.
Como exemplo do problema, as mudanças climáticas: a maioria das espécies se alimenta de peixes, como anchovas, sardinhas e outros peixes pequenos. Como esses peixes são levados para as regiões em que os pinguins vivem pelo mar gelado, as mudanças climáticas causaram ações do El Niño que mudaram a temperatura da água impedem a chegada dos peixes, diminuindo a alimentação e causando o declínio da população.
Os mais prejudicados por este problema são os pinguins das Ilhas Galápagos, que podem ser extintos durante o atual século. Os pinguins africanos, encontrados na África do Sul e na Namíbia, foram recentemente classificados como ameaçados de extinção.
A redução das camadas de gelo também causa diminuição nas espécies. Com menos espaço para viver e se procriar, os pinguins acabam vendo sua população diminuir. Já o problema com os derramamentos de óleo estão causando declínio nas espécies de pinguins principalmente na costa argentina.
Fonte: Terra

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Dados recentes sobre o lixão do oceano.




Após 22 anos de coleta de detritos plásticos acumulados sobre o oceâno, um grupo de pesquisadores descobriu como e por que formou uma ilha de lixo no Atlântico.





O que nenhum cientista não poderá explicar, são as repercussões para a vida de tamanha poluição.

Já se sabia da existência da ilha gigante de plástico que flutua no Pacífico Norte. 
Agora, pesquisadores do Woods Hole Oceanographic Institution e da Universidade do Havaí em Honolulu, revela na revista Science - os resultados de amostras colhidas entre 1986 e 2008 por mais de 7.000 estudantes universitários em 6.136 localidades no Mar do Caribe e Atlântico Norte. Este último dá a maior concentração, com 580 mil unidades por quilómetro quadrado, a maioria em partículas milimétricas, com a superfície da área superior a de Cuba.

Enquanto os pesquisadores descobriram que os resíduos flutuantes tem menos de 60 dias para vindos da costa dos E.U.A, a ilha de lixo plástico gigante foi formada pelos lixos das Américas. No entanto, a maioria do norte. Os plásticos foram levados por rolamento, em circulação ciclônica de ventos.


"É um funil, onde a água é concentrada e indo para a extremidade inferior", diz José Luis Esteves, pelo Laboratório de Oceanografia Química e Poluição da Água de CENPAT-CONICET, Puerto Madryn. Lá, a velocidade da corrente é tão lenta que um veleiro pode ficar 100 anos sem movimento.



Os cientistas ficaram surpresos ao descobrir que, apesar do grande aumento da produção do plástico ao longo destes anos, não era a mesma coisa com a concentração de detritos na zona de maior acumulação. Eles descobriram que os pedaços menores já estavam estabelecidos micro-organismos, e concluiu que, depois de ser degradada pelo tempo e pela radiação solar, eles acabam desembarque no fundo do mar.

"O impacto global, muitas vezes não se vê ", diz Esteves. Esses processos de degradação são importantes para o ecossistema de depleção de oxigênio.



Há plásticos mais perigoso do que outros, dependendo da sua composição. Originalmente tinha um teor de mercúrio muito elevado, que agora está reduzido. Mas, no fundo do oceâno são as bactérias que transformam mercúrio em metilmercúrio, que causa malformação fetal ", quando ingeridos através de peixe contaminado.

É pesca, que produz grande parte da poluição. Antes de chegar em uma ilha de lixo plástico as linhas e redes enforcam leões marinhos, cortam pés de gaivotas e matam os golfinhos. As sacolinhas plásticas, matam tartarugas marinhas que engolem confundindo-as com água-viva.


"Cada um desses barcos é um bairro pequeno flutuante, com os defeitos que qualquer vizinho com a gestão dos seus resíduos", observa o pesquisador argentino. Embora a Organização Marítima Internacional proíbe o despejo de todos os tipos de plástico, não me importo o que quer jogar, incluindo as baterias ".

Os plásticos são visíveis. "O problema são os que incluem plásticos com resíduos de metal ou garrafas de óleo e combustível que se dispersam no local onde são largadas."

Além disso, a formação de ilhas de lixo, as correntes do oceano e do vento também lotados em determinados lugares dos custos. "Na Patagônia, identificamos áreas com até 10 quilômetros."

Em qualquer lugar existe um potencial de convergência oceânica para a acumulação de lixo.

Se há uma ilha nos E.U.A, onde vivem apenas 4 pessoas que não produzem resíduos. E o que não ficar fixo lá ou nas Malvinas, continuará até o meio do Atlântico ".

Esteves é "extremamente difícil eliminar estas ilhas ", a menos que haja uma campanha das Nações Unidas. Trata-se de uma decisão de política internacional. " Enquanto isso, enfatiza a necessidade de substituir o plástico por outras substâncias, para reduzir o consumo e aumentar a reciclagem.

Fonte: Projeto Pense Verde - Postado por Cristina Cavasotto 

O pior momento do Projeto Peixe-Boi




O pior momento do Projeto Peixe-Boi

Celso Calheiros   
06 Set 2010, 08:28




Tanque inacabado. Disputa entre centro do ICMbio e fundação 


acabou com quebra de contrato. (foto: Celso Calheiros) 

Recife - Trinta anos depois de iniciado como iniciativa nacional para pesquisar e apoiar a conservação de um dos mamíferos aquáticos marinhos mais ameaçados do planeta, o Projeto Peixe-Boi vive o seu pior momento. A má fase chega quando o projeto atinge a maturidade, ganha recursos humanos, instituições engajadas e dinheiro. A soma, entretanto, é um resultado adverso.


Fotos enviadas pela atual chefe do CMA
indicam que a situação dos tanque
estava crítica (fotos: Fábia Luna)

O patrocínio da Petrobras Ambiental, de R$ 6 milhões pelo prazo de três anos, firmado com a Fundação Mamíferos Aquáticos (FMA), se transformou em justificativa para o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) recusar o envio de recursos para o Centro de Mamíferos Aquáticos (CMA) em Itamaracá, na Região Metropolitana do Recife, Pernambuco. A chefe do centro, a bióloga Fábia Luna, disse ter ouvido “vocês não têm os recursos da Petrobras?” às vezes que solicitou orçamento aos seus superiores – responsáveis pela gestão de 310 unidades em todo país. Os analistas ambientais sob o comando de Fábia, e ela mesma, classificam de conflituosa a relação com os dirigentes da FMA. “Eles não ouviam nossos pareceres técnicos, se transformaram em burocratas sem ligação com a atividade fim”, resume.

Conflitos, desencontros, reuniões que não atingem o objetivo e acordos não cumpridos sobram nessa história. A presidente da FMA, Denise de Freitas Castro, recorda-se das várias vezes em que buscou o entendimento e saiu frustrada. No entanto ela prefere bater em outra tecla. Denise vê a morte de dois animais, os casos de convulsão em outros três e a transferência de três peixes-boi nascidos em cativeiro para a base em Porto de Pedra, litoral norte de Alagoas, como preocupantes. “Nesse quadro, estão priorizando os meio em detrimento do fim. Temo que a estratégia de conservação esteja sendo ameaçada”, afirma Denise.

Quem visita o Centro de Mamíferos Aquáticos, com seus 29 animais nos dez tanques e dois oceanários em Itamaracá, Pernambuco, vê claramente a degradação da infraestrutura. A necessidadede obras de manutenção e restauração é urgente. O caso mais crítico está nas duas passagens que servem para os peixes-boi mudarem de tanque nos maiores oceanários. Essas passagens têm infiltrações, suas ferragens oxidadas estão à mostra e as duas estruturas estão escoradas.

De acordo com a chefe do CMA, Fábia Luna, e do analista ambiental Maurício Andrade, a situação do centro estava ainda pior. Eles encontraram ninho de ratazanas sob os tanques, o prédio onde está montado o museu servia de depósito de material descartado, a pintura do cinema estava descascada, entre outros problemas. Fábia e Maurício apontam para a fundação quando perguntados pela razão do abandono das estruturas. Denise e João Carlos Borges, da FMA, respondem que a responsabilidade pela manutenção física das instalações de um centro do ICMBio é.... do ICMBio.



Foto acima: ferrugem e infiltrações nos tanques.
Terceira chefe do CMA em três anos, Fábia Luna
mostra o escoramento dos tanques que necessitam
de reformas (fotos: Celso Calheiros) 

Questão histórica 



É preciso voltar no tempo para compreender a falta de diálogo entre as duas instituições. O Centro de Mamíferos Aquáticos (CMA) e a Fundação Mamíferos Aquáticos (FMA) nasceram praticamente ao mesmo tempo, há 20 anos. Uma das missões da fundação era captar recursos para os trabalhos de conservação que passariam a desenvolver com o centro. Juntas, CMA e FMA montaram as instalações em Itamaracá, fizeram pesquisas sobre os peixes-boi marinhos, estudaram como as populações estavam distribuídas e trabalharam a divulgação da necessidade de se proteger a espécie junto aos pescadores e suas comunidades.

Desde 2000, pesquisadores têm indicado a necessidade de novas pesquisas, mais aprofundadas, uma vez que já foi adquirida uma primeira competência sobre o tema. É preciso conhecer e diagnosticar a viabilidade da conservação da espécie. Nesse período, foi consolidada a divulgação do projeto junto aos moradores das áreas litorâneas e criado um comprometimento dessas comunidades. A rotina do CMA e do FMA sempre conviveu com poucos técnicos e parcos recursos, de acordo com Denise Borges, no projeto desde 1993.

Em 2008, surgem fatos novos. O mais relevante foi a criação do ICMBio. Como toda instituição que ganha autonomia, busca se firmar junto à estrutura pública. O CMA também vive momentos de mudanças. Desde então, o centro teve três chefes. No mesmo período, vinte analistas ambientais tomaram posse no CMA.

Do lado da FMA, em 2007, foi concluída uma longa negociação com a Petrobras Ambiental. A FMA firmou um contrato de prazo mais longo, três anos, e orçamento mais robusto: R$ 6 milhões. A Petrobras se tornou um financiador capaz de dar estabilidade a uma instituição que trabalhava com prazos mais curtos e captações mais frequentes.

O centro ganhou o corpo técnico que sempre pediu, a FMA recursos. O trabalho de conservação também começou a dar bons resultados: com mais gente, a campacidade de resgate de peixes-boi são mais frequentes, logo a quantidade de animais em cativeiro é maior. Aí começam os desencontros.



Tanque inacabado e contrato quebrado 

Do lado do CMA, a versão é que a fundação não ouvia as recomendações de seu corpo técnico e não liberava recursos para projetos necessários, entre eles o oceanário em formato de ele. O argumento da FMA diz que o novo corpo técnico do CMA não os vê como parceiros (apenas como gestores dos recursos financeiros) e que foram feitas várias reuniões para se buscar o entendimento, nunca alcançado.

Mesmo em processo de distanciamento, foram reintroduzidos à natureza 12 animais e começou a se trabalhar a técnica de reintrodução imediata. Esse novo método prega que, encontrado um filho encalhado, tenta-se fazer a reaproximação do filhote com a mãe. Em caso de sucesso, observa-se por mais um período (uma semana, aproximadamente). Se houver novo encalhe, leva-se o filhote para Itamaracá para ele crescer em cativeiro.

Em abril, foi firmada a rescisão do contrato entre a FMA e o CMA. Com a ruptura, sobraram um tanque inacabado e acusações. Fábia Luna lembra cada etapa de obra parada, colocação de vidro inadequado, interrupção e outras passagens. Denise oferece detalhes técnicos. O principal é que o valor da obra sofreu saltos difíceis de serem acompanhados, mas prefere se concentrar nos problemas existentes na captação de água. A FMA contratou um técnico que diagnosticou a necessidade de se filtrar melhor a água captada para a construção do novo oceanário.

Indiferentes às discussões do CMA e FMA, os peixes-boi continuam criticamente ameaçados na natureza e até mesmo em locais insuspeitos, como o Centro de Mamíferos Aquáticos. 
Às vésperas do transporte de quatro peixes-boi para a base em Porto de Pedras, Alagoas, dois animais atestadamente sadios morreram e três tiveram quadro convulsivo. A Polícia Federal foi chamada e nem mesmo uma ação criminosa foi descartada. Os corpos dos animais mortos estão sendo periciados e outros exames são realizados. De acordo com os depoimentos dos especialistas do CMA e da FMA, dois fatores aparecem como suspeitos: a presença de ratos próximos aos tanques e a qualidade da água da captada para os tanques dos animais.










domingo, 5 de setembro de 2010

Antártida é 'desnudada' pelo calor e porções de solo agora estão expostas





Antártida é 'desnudada' pelo calor e porções de solo agora estão expostas



Cientistas brasileiros investigam efeito potencial sobre emissões de CO2.
Região onde fica base do país testemunha aquecimento em ‘fast-forward’


G1 publica abaixo,  reportagem da 12ª edição da revista “Unesp Ciência”.Clique aqui para ter acesso ao conteúdo completo da edição.


Não era exatamente de se esperar, mas, em decorrência das mudanças climáticas, tem até estudiosos da área de agronomia trabalhando na Antártida. Com o derretimento das geleiras provocado pela elevação da temperatura do planeta, porções de solo que antes eram cobertas por gelo começam a ficar expostas à atmosfera, e pesquisadores passaram a questionar quanto gás carbônico essas terras recém-desnudadas estão despachando para o ar.
É basicamente a dúvida que motiva Newton La Scala Júnior, um físico que decidiu voltar-se para pesquisas aplicadas e foi parar na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Unesp em Jaboticabal. Ele esteve no verão passado no continente gelado, e Alan Rodrigo Panosso, seu doutorando, deve voltar lá neste ano para dar continuidade aos estudos.
Ao longo dos anos, La Scala desenvolveu uma técnica para medir emissões de CO2 de solos que abrigam plantações de cana-de-açúcar. A Antártida apareceu como um novo e importante campo para a aplicação desses métodos.
Embora o continente seja praticamente todo coberto por gelo – e isso, segundo os especialistas, não deve mudar tão cedo, mesmo que a temperatura continue subindo nas próximas décadas –, há algumas regiões, particularmente no oeste antártico, em que alguma parte do solo, sobretudo nos verões, acaba exposta ao Sol.


Com isso, os microorganismos que vivem debaixo da terra e metabolizam a matéria orgânica presente ali podem emitir gases causadores do efeito estufa. Com o solo aberto, também não tarda a aparecer alguma vegetação, que expira gás carbônico na respiração. O que La Scala e seus colegas fizeram foi medir no local quanto CO2 estava sendo emitido em diversos locais próximos à Estação Antártica Comandante Ferraz, base brasileira em solo antártico.
A instalação está na ilha Rei George, a maior no arquipélago das Shetlands do Sul, a 130 km da península Antártica. Por sua localização mais afastada do polo, ela está bastante sujeita aos efeitos da mudança climática. “É interessante, porque as transformações aparecem ali de forma ampliada”, conta La Scala.
Com efeito, um estudo produzido por cientistas americanos e publicado na revista científica britânica “Nature” no ano passado mostra que a temperatura média no oeste antártico subiu mais de 0,1°C por década nos últimos 50 anos. Mas, em alguns lugares específicos, esse valor ultrapassa 0,5°C por década. “Estamos falando de coisa de 2,5°C nas últimas cinco décadas. É muita coisa”, diz o pesquisador da Unesp, ressaltando que a maior parte do continente antártico não está passando por mudanças climáticas tão radicais assim.
Na prática, é como se aquela região específica – onde está a estação brasileira – estivesse testemunhando o aquecimento global em “fast-forward”. Torna-se, portanto, imperativo descobrir o que está acontecendo por lá, até mesmo para antecipar coisas que virão a aparecer mais tarde em outras regiões do planeta.


No tempo e no espaço
As medidas obtidas pela equipe, sob coordenação de Carlos Schaefer e Eduardo de Sá Mendonça, da Universidade Federal de Viçosa, renderam, de início, dois estudos. Um deles procurou avaliar a variação das emissões de gás carbônico pelo solo antártico dependendo do tipo de cobertura presente. “Investigamos a diferença entre uma superfície com gramíneas, que estão se tornando cada vez mais comuns, e uma com um tipo de musgo”, afirma La Scala.


As medições são obtidas no próprio local, com uma câmara automatizada colocada sobre um anel de PVC que veda uma pequena área do terreno. “Em coisa de um, dois minutos você já tem uma medida”, conta o físico.


As emissões de CO2 foram maiores em terrenos com grama (espécie Deschampsia antarctica) do que com musgo (Sanionia uncinata). Curiosamente, outra influência importante na quantidade de dióxido de carbono emitido vem dos pinguins. As fezes das aves são um elemento importante de fertilização do solo com matéria orgânica, o que induz um aumento na liberação do gás-estufa.
Os resultados, aceitos para publicação no periódico “Antarctic Science”, ajudam a qualificar que tipo de efeito se observa de acordo com a colonização do terreno por um dado tipo de vegetação – ou pelo solo nu. Mas há também outra variável importante na determinação do efeito das emissões por um dado tipo de superfície: a temperatura.
Mais uma vez, a localização da Estação Antártica Comandante Ferraz ajudou, pois além de estar numa região em que há solo exposto (embora a maior parte da ilha Rei George fique permanentemente coberta de gelo), há também grande variação de temperatura. “Ali nós conseguimos, em questão de dias, uma flutuação que vai de zero a dez graus, um intervalo bom para tomarmos medições”, indica La Scala.
Ficou claro que, como esperado, a temperatura tem uma enorme influência no quanto o solo emite de CO2. Quanto mais quente, mais carbono vai para a atmosfera, e o aumento se dá de forma exponencial. Essas conclusões figuram em outro artigo, também já submetido e aceito para publicação, desta vez na revista “Polar Science”.
Agora, se as emissões de solo exposto sobem agressivamente com a temperatura, e o planeta está ficando cada vez mais quente (em especial aquela região do oeste antártico), promovendo o recuo de geleiras e a exposição de mais terreno ao ar, já seria o caso de se desesperar e se render a uma mudança climática catastrófica para os próximos anos?
“Não necessariamente”, afirma La Scala, indicando que essas transformações, no fim das contas, talvez venham até arrefecer o avanço do aquecimento global. Isso porque esses solos descobertos tendem a ser mais vegetados com o tempo, e aí passa a ganhar peso um outro mecanismo da natureza: a fotossíntese.
Rede complexa de relações
Como se sabe, as plantas se alimentam da conversão de energia solar e gás carbônico extraído da atmosfera em oxigênio. Em geral, esse processo mais que compensa a própria respiração das raízes dos vegetais, que libera o mesmo gás, e produz um mecanismo de fixação de carbono no solo. É bem possível que isso também aconteça na Antártida, e os terrenos expostos passem a ser sumidouros de gás carbônico, ajudando a conter o acirramento do efeito estufa.


“Ainda não sabemos se isso acontece porque em nossos estudos usamos uma câmara opaca, que bloqueia a luz solar. Então, na hora em que fazemos a medição [de uma área], a planta que pode estar naquele solo não está fazendo fotossíntese. Medimos apenas as emissões”, diz o pesquisador. “Mas já cogitamos, para o futuro, usar uma câmara transparente, para tentar incluir também os efeitos de absorção do dióxido de carbono. Quando isso acontecer, podemos até descobrir que o desaparecimento do gelo reduz a presença de CO2 na atmosfera.”
E aí, quando você acha que finalmente começou a entender a contribuição da Antártida (positiva ou negativa) para a mudança climática, entra em cena o albedo.
Grosso modo, ele é o quão reflexiva é a superfície de uma dada região. Um terreno que reflete mais luz rebate melhor a radiação de volta para o espaço e, portanto, esquenta menos sob o sol. Já outro mais escuro absorve mais do que reemite. Trocando em miúdos, gelo (mais claro) ajuda a se livrar do calor; solo rochoso faz o contrário. Então, mesmo que o terreno exposto promova fotossíntese e sirva como sumidouro de carbono, ainda será preciso avaliar o que ele faz em termos de absorção ou reflexão da radiação solar.
Em suma, ainda há muito que investigar no continente antártico. E o Brasil parece finalmente disposto a investir nisso.
“As coisas mudaram muito de uns cinco anos para cá”, afirma Jefferson Simões, glaciologista brasileiro da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e pioneiro das pesquisas antárticas no país. Ele foi o primeiro a conduzir uma expedição nacional até o polo Sul, em 2008, e agora também figura numa posição de gerenciamento dos estudos brasileiros, como coordenador do recém-criado Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Criosfera, que agrega cerca de 140 pesquisadores brasileiros e estrangeiros. É nele que estão inseridos os trabalhos de La Scala.
Além desse grupo, o Ministério da Ciência e Tecnologia também promoveu a criação do INCT Antártico de Pesquisas Ambientais. Enquanto o primeiro é mais abrangente e atinge todas as áreas do planeta ocupadas por gelo, o segundo é mais focado na Antártida e reúne aproximadamente 50 pesquisadores, dentre eles José Alexandre Perinotto, da Unesp de Rio Claro. Ele estuda o recuo de geleiras na região próxima à estação brasileira.
“Há muita coisa a ser explorada ainda, e o foco que o Programa Antártico Brasileiro está tomando agora vai mais na direção da meteorologia, do estudo da influência do ambiente antártico no clima do Brasil”, afirma Simões. Ele faz questão de destacar que as famosas “frentes frias” que costumam atingir o país vêm todas da região polar. Seja o que for que possa acontecer lá nos próximos anos em termos de derretimento das geleiras e emissão ou absorção de gás carbônico, terá potencial para afetar o clima de todo o Brasil.

Copyright: Unesp Ciência
“Unesp Ciência” é uma publicação da Universidade Estadual Paulista que traz reportagens sobre os grandes temas da ciência mundial e nacional e sobre as pesquisas mais relevantes que estão sendo realizadas na instituição, em todas as áreas do conhecimento.