terça-feira, 11 de maio de 2010
Desastre ambiental no Golfo do México: Especialista recomenda abate dos pássaros cobertos de petróleo
Uma bióloga alemã afirma que as tentativas de limpar pássaros cobertos de petróleo no Golfo do México são em vão. Para o bem dos pássaros, seria mais rápido e menos doloroso se os indivíduos que fazem o resgate dos animais os matassem, diz ela. Estudos feitos sobre o assunto e outros especialistas apoiam a opinião dela.
“Matem, não limpem”, é a recomendação de uma bióloga alemã, que nesta semana disse que os esforços maciços para limpar pássaros cobertos de petróleo no Golfo do México não contribuirão muito para impedir que as criaturas sofram uma morte dolorosa e quase certa.
Apesar do sucesso de curto prazo da operação de limpeza das aves e da libertação delas na natureza, poucas, ou nenhuma, têm chances de sobreviver, afirma Silvia Gaus, uma bióloga do Parque Nacional Wattenmeer, localizado no Mar do Norte, no Estado alemão de Schleswig-Holstein. Reportagem de Der Spiegel.
“Segundo estudos sérios, o índice de sobrevivência de médio prazo dos pássaros cobertos de petróleo é de menos de 1%”, afirma Gaus. “Portanto, nós nos opomos à limpeza dessas aves”.
O vazamento – que continua lançando mais de 755 mil litros de petróleo por dia no Golfo do México – foi provocado por uma explosão, no dia 20 de abril, em uma plataforma de petróleo operada empresa BP, a 80 quilômetros da costa do Estado de Luisiana.
No rumo seguido pela mancha de petróleo encontram-se várias áreas protegidas para a vida selvagem, incluindo uma zona de reprodução vital para os pelicanos marrons, que só foram removidos da lista do Programa de Espécies Ameaçadas dos Estados Unidos no ano passado. O Refúgio Nacional Brenton da Vida Selvagem, na Luisiana, abriga 34 mil pássaros. Até o momento, a grande mancha de óleo ainda não fez um contato significativo com a costa, o que tem limitado a quantidade de pássaros afetados, mas os observadores temem que seja apenas uma questão de tempo para que as praias ao longo da Costa do Golfo do México tornem-se negras devido ao petróleo.
Os pássaros acabarão morrendo devido a causas de longo prazo
A captura e a limpeza de aves sujas de petróleo muitas vezes provoca uma quantidade de estresse que é fatal para os pássaros, explica Gaus. Além do mais, forçar as aves a ingerir soluções de carvão – ou Pepto Bismol, como os trabalhadores de resgate de animais estão fazendo ao longo da costa do Golfo do México –, na tentativa de prevenir os efeitos venenosos do petróleo, é uma medida ineficaz, afirma Gaus. Segundo ela, as aves acabarão morrendo de qualquer forma devido a danos nos rins e no fígado.
Gaus fala com a autoridade de quem possui 20 anos de experiência, e ela trabalhou na limpeza ambiental do vazamento do Pallas – um navio de carga que transportava madeira e que derramou 90 toneladas de óleo no Mar do Norte, após encalhar em outubro de 1998. Cerca de 13 mil pássaros se afogaram, morreram de frio ou de estresse como resultado do vazamento do Pallas.
Assim que fica coberto de petróleo, o pássaro usa o bico e a língua para remover a substância tóxica das suas penas. Apesar do gosto e do cheiro terríveis do petróleo, o pássaro mesmo assim tenta limpar-se porque ele é incapaz de sobreviver sem as penas secas e fofas que repelem a água e regulam a temperatura do seu corpo. “O instinto da ave de limpar-se é maior do que o seu instinto de caçar e, enquanto as suas penas estiverem sujas de petróleo, ela não irá se alimentar”, diz Gaus.
“Rápido e indolor”
Mas é o instinto dos biólogos, que frequentemente sentem-se compelidos a salvar as aves por obrigação e devido a razões éticas, que acaba levando os pássaros a uma morte pior, dizem alguns especialistas. Seria melhor deixar que os pássaros morressem em paz, afirma Gaus, ou matá-los de forma “rápida e indolor”.
Até mesmo preservacionistas ferrenhos do World Wildlife Fund for Nature (WWF) concordam com Gaus. Quando houve o vazamento de óleo do navio Prestige, em 2002, ao largo da costa da Espanha, um porta-voz da organização declarou: “Os pássaros, aqueles que ficaram cobertos de petróleo e ainda podem ser capturados, não podem mais ser ajudados. Portanto o World Wildlife Fund reluta bastante em recomendar a limpeza dessas aves”.
O vazamento do Prestige matou 250 mil pássaros. Dos milhares que foram limpos, a maioria morreu dentro de alguns dias, e apenas 600 sobreviveram e puderam ser libertados. Segundo um estudo britânico daquele vazamento, o tempo médio de vida de um pássaro que é limpo e libertado é de apenas sete dias.