As baleias Jubarte estão chegando ao Estado desde junho do ano passado, mas a morte de uma delas esta semana, em Nova Almeida, Serra, despertou a atenção dos especialistas e populares para mais uma temporada da espécie no litoral capixaba. Segundo o Instituto Orca, são esperadas 10 mil baleias da espécie no litoral capixaba na temporada deste ano.
A proibição à caça de baleias fez bem àquelas que visitam o litoral brasileiro. Segundo o fundador do Instituto Orca, Lupércio Araújo, é notório o crescimento da população e, mais ainda, que é no litoral capixaba, mas precisamente na região do Banco de Abrolhos, que abrange parte do norte do Estado até o sul da Bahia, o lugar que a espécie escolheu para se reproduzir ou criar seus filhotes. Mas, infelizmente, é essa região também a preferida das indústrias de petróleo e pesca.
Outra região escolhida pelas baleias é a Ilha de Trindade, distante 1.200 quilômetros a leste da costa capixaba. Entre inúmeras explicações, a mais citada entre os especialistas é que mães Jubartes procuram aqui um ambiente mais quente do que as águas subantárticas, especialmente regiões com recifes de coral, para criarem com segurança os seus filhotes.
Ao mesmo tempo em que a notícia é positiva, também preocupa quem trabalha com o estudo e o resgate destes animais. Só no Espírito Santo morreram 42 baleias Jubartes em 2010. O mesmo ocorreu também na costa da Austrália e da África, levantando inúmeras suspeitas sobre as mortes, mas ainda nenhuma conclusão definida.
"É sabido que a atividade de sísmica, que é proibida nesta época e, mesmo assim, acaba por vezes ocorrendo, pode desorientar e até matar as baleias, assim como também é um risco o atropelamento por embarcações e os ruídos que elas geram. Das mortes ocorridas no ano passado, porém, foram isolados os casos onde pudemos constatar resquícios de redes de pesca, sinais de trombadas ou outro sintoma que indique a influência da atividade humana nas mortes", ressaltou Lupércio Araújo.
As informações sobre as mortes no Estado ficam ainda mais reticentes devido à falta de estrutura para resgatar as baleias encontradas mortas no litoral capixaba. Manipular, examinar, efetuar uma necropsia em cima de uma pedra, ou mesmo correr o risco de uma onda deslocar a baleia sob o profissional são obstáculos enfrentados, comenta Lupércio. Desencalhar baleias vivas também é outro episódio que dificilmente ocorre.
No caso da primeira baleia Jubarte encontrada no litoral capixaba este ano, que morreu nessa terça-feira (19), segundo Lupércio, provavelmente já se aproximou da costa por estar doente ou com ferimentos. “Ela se prendeu às pedras em um local de difícil acesso para a remoção. Isso aconteceu por volta das 17h e ela morreu por volta das 5h ainda presa às pedras”, contou Lupércio.
Apesar de contar com o apoio de algumas empreiteiras, a dificuldade, explica ele, é a falta de estrutura das próprias prefeituras. “Ás vezes solicitamos um tipo de trator e nos mandam outro e já sabemos que este não irá resolver, o que prejudica o resgate ou remoção do corpo da baleia da região. Agora, imagine um animal de 40 até 50 toneladas se decompondo na praia. Essa falta de recursos, além de impedir que a causa da morte possa ser estudada, gera um problema sério de saúde pública", alertou.
O quadro no Estado retrata falta de estrutura não apenas das prefeituras capixabas, mas também a pouca atenção dada pelo poder público à causa que se sobrepõe, inclusive, à questão ambiental, já que a morte de uma baleia pode não apenas gerar mau cheiro e inviabilizar a área para banho, mas também gerar doenças à população. No Espírito Santo não há também locais para a destinação das baleias mortas, já que essas não podem ser enterradas nem na praia e nem em locais onde há recursos d’água, devido ao risco de contaminação do solo.
As baleias Jubartes começam a chegar ao litoral capixaba no mês de junho e começam o retorno de sua jornada de outubro até novembro. A época onde há maior quantidade de espécies no Estado é entre os meses de agosto e setembro.
Omissão
Ao contrário de outros estados, onde a presença abundante de baleias é explorada, inclusive de forma turística, com a criação de mirantes e informações sobre as espécies - como é o caso de Santa Catarina -, no Estado, a proposta de criação de um Centro de Pesquisa, Manejo e Conservação de Animais Marinhos ainda não saiu do papel. Em fevereiro de 2010, a principal reivindicação era para que o governo viabilizasse uma área próxima ao mar para a implantação do centro. O local previsto é o antigo Radium Hotel, em Guarapari, conforme indicação feita pelo deputado Hércules Silveira (PMDB) na ocasião.
Entretanto, a proposta foi elaborada pelo próprio Instituto Orca, organização sem fins lucrativos, que trabalha com pesquisa e conservação marinha. É o instituto quem cuida, há anos, de forma voluntária, dos casos de encalhes de baleia, morte ou acidentes com golfinhos no litoral capixaba.
A criação de um centro é também reivindicação antiga dos ambientalistas capixabas, que cobram ainda viabilidade de uma área próxima ao mar para a implantação do centro, levando em conta o alto número de acidentes com baleias e golfinhos no Estado.